Uma ilha de brincar e outra a sério
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open Chegámos às cinco e meia da manhã a Puno. às seis estávamos a deixar as mochilas, às sete comprámos dois papos secos, camote e corremos para o Titicaca. Titikhhhakhhha, é assim que se diz, e é a primeira coisa que se aprende do Lago. Depois falam-nos dos duzentos mil quilómetros quadrados de água, dos três mil oitocentos e dez metros de altitude – sim, estamos no lago mais alto do mundo. Agora vamos muito devagarinho, navegamos sobre tesouros desconhecidos, aqueles que a Pachamama – a eterna Mãe Terra – e tantas civilizações deixaram submergir. Num barco a flutuar sob o feitiço do Lago Sagrado dos Incas. STOP. O feitiço quebra-se um bocado quando se pára o barco para comprar o bilhete e pagar o fee turístico. Está tudo arranjadinho logo à entrada, bilheteira-casinha-de-palha, oficial de traje fluorescente a acenar aos turistas e ligam-se outra vez os motores até às Islas Flotantes de Los Uros.
Os Uros são um povo danado. Fizeram-se à água para se protegerem, criaram ilhas onde não havia ilhas e reinventaram a totora. Primeiro viviam em barcos-casa, depois perceberam que os barcos eram pequenos de mais para os avós, os filhos e os netos. Então, totora. As raízes de totora flutuam, e se se unirem as raízes com cordas de totora formam-se ilhas de totora. Ora se se colocarem várias camadas de canas de totora por cima, fazem-se carpetes de totora. E se se erguerem as totoras, fazem-se casas de totora. E se se deitarem as totoras, fazem-se camas de totora. E se se comerem as canas de totora? E se se fizerem chapéus de totora? E se a totora baixar a febre? Então, totora. Que prático, aliás, os Uros são é um povo muito prático. Primeiro, cada família cada ilha, só para não haver confusões, e se mesmo assim houver confusões, corta-se a ilha, é prático. Depois, é o que está à mão, comem o que pescam, os pássaros que caçam, os ovos que recolhem, e o que falta arranja-se nas trocas dos Domingos. Tão práticos, tão práticos, que se venderam ao turismo e agora vivem de fotos, fees e feirinhas de artesanato.
Mais duas horas e meia de lago, Taquile, a ilha a sério. A ilha de pórticos abertos ao azul-titicaca, de largos com capelinha e senhoras de lenço preto à cabeça. Socalcos de batatas e ovelhas, tragos de água ardente para os ânimo dos homens e das mulheres da tecelagem, almoços debaixo das tendas do artesanato e crianças muito lindas a pedir fotos por um sole. Depois é tirá-los pela pinta do gorro à campino, os vermelhinhos são os casados, os das riscas vermelhas e brancas andam à procura do par. O estado civil das mulheres também está à mostra, quem tem os pompons maiores é solteira. E à hora de almoço come-se o que se come por lá – sopa de quinua, truta com batata e mate de muña. Depois descem-se as 570 escadas irregulares até ao porto do outro lado e dormem-se três horas de lago até Puno.