75Km até Machu Picchu - I
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read Foi em Quito que começámos a caminhar. Foi depois de um café tardio com uma alemã que decidimos chegar a Machu Picchu pelo mesmo caminho do povo Quechua – o caminho de Salkantay. Como é óbvio não houve qualquer romantismo na decisão – era o mais barato, dizia a alemã. Também nos disse que eram cinco dias a caminhar, que era muito duro, que era muito frio, que era muito alto, que era muito difícil respirar. Ficámos todas acagaçadas, mas já não havia volta a dar. Faltavam mais de duas semanas, mas não houve um dia que não sofrêssemos com o que estava para vir, não houve um dia em que não falássemos ou partilhássemos a aflição, e a cada passo que dávamos, íamos medindo forças e fazendo contas ao nosso rendimento físico.
Até que chegámos a Cuzco, era o momento. Entrámos em todas as agências de viagens, batemos a todas as portas, corremos as capelinhas todas que havia, mas caramba, chegámos em época alta e o preço tinha duplicado. Mas como é que depois de tanta apoquentação podíamos entrar num comboio de backpackers e em menos de quatro horas chegar a Machu Picchu? Como é que depois de tantos nervos podíamos entrar sem uma gota de suor na maravilha? Com que cara ficávamos se, depois de espalhar aos quatro ventos a nossa bravura, decidíssemos poupar uns trocos e ir confortavelmente até às montanhas. Era preciso não ter vergonha na cara, nem um pingo de orgulho.
Lanterna, meias quentes, saco-cama, gorro, toalhitas, bolachas, passaporte, lenços de papel, botas de trekking (alugadas à última da hora), vaselina, luvas, pensos rápidos, brufen, bâton do cieiro, benuron, camisola de lã, impermeável, biquíni, repelente, protector solar, óculos de sol, nívea, baterias, garrafas de água, rebuçados, folhas de coca. Distribuímos pesos, rolinhos de roupa, organizámos os bolsos das mochilas pequenas, e às quatro da manhã de quinta-feira saímos com cinco camadas de roupa para os cinco dias de Salkantay.
As primeiras três horas fizeram-se a dormir num autocarrinho cheio de pólos e anoraques north face, mochilas grandalhonas, gorros peruanos, bastões quitadíssimos, calças de montanhismo com muitos fechos e bolsos, botas gore-tex e sapatilhas ergonómicas. Estávamos tão fora de contexto que percebemos não só estávamos mal preparadas, como estávamos mal equipadas. Aquilo era gente do trekking à séria, dos que contam montanhas e sobem aos Himalaias com uma perna às costas. Ríamo-nos da nossa miséria enquanto trincávamos o pão com queijo a meias e bebericávamos a caneca de café. E rimo-nos ainda mais na hora de deixar o peso extra para as mulas (sim eram mesmo mulas), enquanto todos deixavam as grandes mochilas de 50 litros, nós entregávamos o nosso saquinho de pano com dois sacos-cama lá para dentro e umas bolachinhas. Cada um podia levar seis quilos, ora nós as duas nem aos cinco chegávamos – só nos podia faltar alguma coisa. Morríamos de riso e morríamos de medo. Depois olhávamos à nossa volta e não queríamos ir com os putos americanos que já estavam “so excited”, também não nos apeteciam os “pros” das caminhadas que só podiam querer ir muito depressa, queríamos muito um grupo onde se falasse espanhol e se fosse “muy despacio”. O Primo, o nosso guia, começou a chamar um a um, e ouvimos os nossos nomes junto com um Fernando, uma Patricia, um José, um Miguel, um Jaime, nomes familiares, bom presságio. E no final da chamada, entre uma inglesa, um irlandês, uma australiana e um americano, iam duas portuguesas, dois brasileiros, três espanhóis e um peruano. A família estava formada e tínhamos uma caminhada de quatro horas, até à hora de almoço, para escolher um nome.