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Quantas não foram as vezes que confirmámos no Google Maps as dezanove horas da origem ao destino, e fomos somando os descontos das paragens, dos contornos de estradas, dos atrasos sul americanos, para sempre chegarmos à triste conclusão de que nunca, em menos de vinte e três horas, estaríamos em Lima. E foi mais ou menos a contar com as vinte e três que dissemos ao Nuno que lá para as onze, meia-noite chegávamos. Isto até com uma certa folga, não fosse necessário somar mais uns imprevistos. Mas o que não prevíamos era que em Chiclayo – o nosso primeiro destino – só houvesse autocarros para Lima a partir das cinco da tarde – em Cuenca diziam-nos que havia a todas as horas. O que não imaginávamos era voltar a andar às voltinhas com um taxista burlão, nem nos passava pela cabeça que depois de perdermos duas horas sabe-se lá bem onde, ainda tivéssemos de entrar noutro autocarro para outra cidadezinha poeirenta a cinco horas de Chiclayo, e de lá outro táxi e outro autocarro, para só dali a mais doze horas chegar, miseravelmente, às quatro da manhã, a Lima. Também não contávamos com a aridez da costa norte, com as cidades de tijolo burro e vigas de fora, lugares que parecem estar a desmonte. Não esperávamos desertos de entulho, lixeiras a céu aberto com bandeiras hasteadas a cada montinho de porcaria, cidades de buzinas esganiçadas e táxis empenados, e outra vez, a ideia perturbante de não saber para onde vamos, nem em quem confiamos – pareceu-nos que estávamos há dois anos atrás, chegadas a Nova Delhi, carne fresca.

Mas já estamos no centro de Lima, é de madrugada e entramos numa garagem matreira, cerrada por portões altos e escuros, iluminada a luzes de talho. Os companheiros de viagem, ainda que algo matreiros também, dizem que nem pensar sairmos dali sozinhas. Nós, agoniadinhas, nem se quer nos passava pela cabeça sair dali – vimos ruas muito feias, muito bandido e movimento suspeito fora daqueles portões. O Sr. Palácios ia estar à nossa espera, mas até as indicações nos deram mal – estamos em Montevideo e não em Ormeños – só que o senhor de confiança do Nuno já lhes conhece a manha, e depois do minuto de aflição aparece-nos de braços abertos. Vai a Bárbara não tem mais nada, salta-lhe para os braços e lá gagueja as “muchas gracias Sr. Palácios”. Estávamos safas.

Safas e quentinhas num décimo quarto andar de San Isidro. às quatro e meia da manhã, depois de uns tantos e-mails, um dia de mensagens e telefonemas, conhecemos finalmente o Nuno, meio ensonado. O Nuno que dali a duas horas vai trabalhar e deixa a Júlia para cuidar de nós. A Júlia que tem a mesa pronta para o pequeno almoço, muito preocupada com o nosso bem estar, que nos faz máquinas de roupa e até nos cose os buraquinhos das calças. A Júlia com quem gostamos muito de conversar. A Júlia que dá tanto mimo que nos deixa estendidas no fofinho do chão da sala, de livros abertos e cafezinhos a fumegar. Só saímos dali muitas horas mais tarde, com o Nuno de jantar marcado e conversa bem desperta.

Pitéus e picardias, garfadas e facadinhas, piscos e ceviches. Estamos nós, o Nuno e o João, o Bob o Construtor, o Hulk, a Boa Samaritana e a Snob, o Zé Manel e a Green Peace. Horas nisto, sempre em despique, a espingardar até só restarmos os quatro no restaurante. E dali vai-se para outra, e depois ainda se tenta outra e acaba-se a dançar salsa ao chegar a casa. Faz-se dia, o João já deve estar a caminho da grande Cidade do México e nós adormecemos para acordar tarde.

Centro de Lima, Perú ao centro. é entre os edifícios soberanos da “Cidade dos Reis” que se marcha esta tarde, em listas, fitas, padrões e bordados, marcha-se de frente para as fachadas barrocas, para os apalaçados de varandins trabalhados, para as praças maiores e para as menores também se marcha. Hoje as ruas enchem-se de um carnaval indígena, a bater pé, a bater palmas, culturas do norte, do sul, do pacífico, da selva. Estão todos lá, e todos têm menos de dezoito anos. Em Julho são as Fiestas Patrias del Perú, é o mês da independência, a algazarra é grande, e hoje saem à rua as escolas. Mas é no ramerrame de segunda-feira que a cidade se vê capital. é o trânsito revolvido, a gente de papéis e pastas na mão, os polícias em filas de escudos a escoltar edifícios parados no tempo, vendem-se pipocas e bolos cheios de creme, há churros e farturas quentinhos, chifas cheias de gente à hora dos almuerzos, há guarda-sóis nos balcões dos republicanos, toldos nas fachadas afrancesadas. Estaríamos em Paris, se as grandes rotundas não tivessem vendedores ambulantes, nem autocarros a descamar, era Viena se as portadas dos teatros e dos hotéis não estivessem tão comidas, as paredes tão sarrabiscadas, as esquinas tão cheias de buracos. Seria Florença, se em frente às grandes igrejas não houvesse indígenas de filhos às costas e chapéus na cabeça. Mas é Lima, a eterna capital deste lado da América Latina. A cidade construída numa baía de morros altos, escudos naturais, contra-ataque, defesa.

Mas é outra Lima que o Nuno nos mostra. é a Lima dos passeios ao anoitecer em Chorrillos, Barranco e Miraflores. é a Lima da noite, pelos restaurantes, bares e clubes onde a vida é outra e se dança até de manhã. é a Lima de pequenos-almoços na varanda que também duram até tarde. Lima de sabores apurados e felizes copos de vinho. Mais um brinde a ti, ó Zé Manel.