Cartagena I Colômbia
En las calles de Cartagena

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Ah se não chegamos. Colômbia num embate de 35 graus, real feel 40, logo à saída do avião. Um bafo quente, húmido, daqueles que nos deixam à rasca para respirar, daqueles que nos deixam a pensar se nos aguentamos muito tempo por ali. Mochilas às costas e ao peito, apertar ainda mais o calor, até apanharmos um dos amarelos, de vidros todos abertos até à Boquilla. Caribe acastanhado sempre ao lado, resorts de luxo, apartamentos para a nata pensados por arquitectos armados ao pingarelho. Na berma da estrada, os escurinhos, agachados na roda do almuerzo, ainda com os capacetes amarelos postos – se fossem quatro e meia, diríamos que era a hora da coca-cola light de La Boquilla.

Mas porque é que nos pomos nós a achincalhar os arquitectos, quando temos uma piscina com jacuzzi de frente para a praia, um banho turco para limpar a pele, quando nos estendem as almofadas nas espreguiçadeiras, quando nos abrem a porta de um apartamento com varanda sobre o mar, com tudo e de tudo lá dentro. Estamos na casa da Maria, a mesma Maria de Hanói, que por sorte é colombiana e nos deixou a casa de Cartagena só para nós. é claro que ficámos o dia todo entre a piscina e o sofá de frente para a grande TV, sem fazer nenhum. Nem para jantar saímos.

Na manhã seguinte, o Caribe. O Caribe acastanhado, de areia acastanhada, de toldos montados em estacas de madeira com cadeiras e mesas de plástico lá para dentro. O Caribe onde nem se pode estender a toalha para apanhar sol. O Caribe onde se rebola em água cheiinha de areia, acastanhada. O Caribe das costenhas sempre a ensaboar-nos com os óleos das massagens que não compramos. O Caribe do peixe frito e do reggaeton aos berros. O Caribe, agora da nossa piscina.

Mas há que sair da piscina. Cartagena é muito mais do que uma linha de praias alinhadas por resorts. Cartagena das índias, dentro de uma muralha, em esquadrias de casas a condizer, flores que trepam muros e varandins, pracetas que se enchem, esplanadas que se abrem, charretes com cantantes a passar, a luz baixa do fim de dia, as luzes quentes da noite. E nos bares já se dança salsa e vallenato e as mesas já se enchem de Aguilas e alegria. Saímos da muralha para Havana, estamos em Cuba, há trompetes, piano, batuques, guitarras e a voz cálida da salsa cubana, num club com divisas, dísticos e bandeiras penduradas, há cartazes nas paredes com os grandes nomes dos combos cubanos, tectos altos, as ventoinhas que não param de girar, como também giram os corpos cá em baixo, corpos negros, camisas brancas, movimentos sensuais, jogos de cintura e muitas vueltas ao som do Joe Arroyo – “En los anos mil seiscientos, pam pam pam, cuando el tirano mando, pam pam pam, pam, pam, las calles de Cartagena, pam pam pam, aquella historia vivio, pam pam pam, pam, tuc, tuc tuc...”.

E no Domingo acordámos bem temprano para o verdadeiro Caribe. Espertas, Domingo. No Domingo vai tudo para a praia e a verdadeira praia está na ilha, e para se chegar à ilha tem de se apanhar o barco, todos têm de apanhar o barco, e o barco é uma lancha, e a lancha está velha e cheira a gasolina que tresanda. Depois de mais de uma hora com a cabeça a arder, à espera que nos chamassem, lá entrámos no barquito. E quem é que conduz o barquito? O guna, e guna que é guna tem a mania das velocidades. E lá vamos nós, a assapar, a ultrapassar tudo, no barco mais esfrangalhado de todos. E foi assim que prometemos nunca mais andar de barco. Saltámos logo na primeira praia – Playa Blanca. Agora sim, o Caribe. O Caribe piscina de águas azuis turquesa, areia branca, finíssima. O Caribe que dá vontade de não sair mais da água. O Caribe domingueiro onde não cabe mais ninguém na água. O Caribe das carapinhas a saltitar, das motas de água, das bananas insufláveis, das lanchas a chegar carregadas de gente. O Caribe das mangas à cabeça, dos vendedores de pulseiras e gelados, dos cocktails e dos ceviches. O Caribe tarde inteira com Reggaeton em loop. E não é que gostámos? E não é que desta não nos aborrecemos da praia? E não é que estávamos nós enfiadinhas na água a levar com as ondas e com o fumo das motorizadas, a levar com os splashes das bananas e com os encontrões das carapinhas, a comer peixe frito com as mãos, sentadinhas na cadeira de plástico, e a cantar – “Quiero, casar-me contigo”.