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Temos os guias, os mapas, os telefones com gps, o gps, os cabos, os carregadores, o saco do pão, do queijo, das bolachas, os cereais do pequeno-almoço, as cenouras descascadas, os copos de café vazios, as garrafas de água a rolar debaixo dos bancos, as migalhas nos assentos, a máquina fotográfica, os casacos grossos, os casacos finos, temos lenços, livros e óculos de sol no banco de trás, temos a bolsa “Holy, Holy, Holy” – “Howl forever” com os blocos de notas, os dólares, os cartões, as canetas, lenços de papel, folhas soltas, “Reality Sandwishes”, post-hits, crackers esfareladas, fósforos, ganchos e elásticos. Temos o Dylan, o Rodriguez, o Mckenzie e a Power a tocar. Temos mudanças automáticas e os vidros sujos. Temos calor, temos o mar à nossa frente e não nos entendemos com o GPS. Estamos em Santa Barbara, ainda hoje chegamos a Cambria.

Fazemos o primeiro desvio pelo interior, entramos pelos montes verdes, do cultivo dos morangos, das vacas, fazemos as primeiras grandes rectas e atravessamos as primeiras muralhas de montes, fortes de pastos, com ilusões de passagens estreitas, damos com as primeiras vilas de motel, diner e Mcdonalds berma de estrada. Metemos gasolina, trazemos outro café para o carro, mais uma hora até Morro Bay. Passamos San Luis Obispo, voltamos à N1 e à linha do mar. Guina-se o volante, fecham-se as janelas, há ventania, é vendaval, e não sabemos se é melhor acelerar ou abrandar – já agora, é melhor acelerar ou abrandar? Passamos Cambria, é muito caro, vamos dormir a San Simeon. Voltamos a Cambria na manhã seguinte. é uma cidadezinha com duas ruas grandes – uma na encosta, outra em frente à praia, filas de casinhas das histórias de encantar, dá para brincar aos livros, às artes e aos artesanatos, dá para entrar, beber cafezinhos e comer tartes de maçã. Duas ou três rectas grandes e no topo da montanha vê-se, muito pequenino, o imenso castelo de Hearst, o do “Citizen Kane”, é tudo verdade.

Lucia, Plaskett, Gorda, Ragged Point, leões marinhos, ravinas, pontes, grandes formações rochosas, o mar bravo, o vento louco, parques naturais, mais vacas, quedas de água, estradas apertadas, curvas fechadas, aves de rapina, Steinbeck, Miller, Kerouac – Big Sur – sabíamos que lá queríamos ir, mas não sabíamos nada. é um lugar de forças elementares, dos elementos em desassossego, de almas revolvidas, tumulto, titãs, perturbação – All this comes back to me, then goes again, and comes back again, then goes again, and I don't care, it still belongs to me.

Monterey, suspiro longo. Hamburger gigante, cherry coke, motel. Monte rei, Monterey, nome português. Monterey Pop, primeiro festival de música ainda antes do Woodstock, foi cá que o Hendrix partiu exemplarmente a guitarra, o Ravi Shankar apareceu aos americanos e a Janis Joplin deu o primeiro grande concerto. Foi capital da Califórnia e onde o Steinbeck encontrou a rua do “Cannery Row”. Hoje já não se alinham fábricas de enlatar sardinhas, nem cheira mal, nem faz barulho. Hoje faz-se fila para o aquário da cidade, espera-se por mesa nos restaurantes com fama de ter bom peixe. Está tudo muito bonito e enceradinho, dá gosto, mas nós pensávamos noutra Cannery Row – a poem, a stink, a grating noise, a quality of light, a tone, a habit, a nostalgia, a dream – como nos prometeu o Steinbeck.

Um sonho, sim, um sonho, de campos de golf a entrar pelo mar, florestas de ciprestes, ciprestes agarrados a rochas há séculos, veados sem medo, casas de madeira branca em frente ao mar e uma cidade delicada, de galerias de arte, restaurantes muito franceses, muito italianos, vitrines de chorar. Não há lugares feios aqui, até os passarinhos têm olhos de lantejoula. é daqueles lugares onde paramos cinco minutos para imaginar a nossa vida lá, mas passados os cinco minutos quebra-se qualquer coisa, talvez nos aborreçamos, e vamos embora. Até o Clint Eastwood se deve ter aborrecido de ser mayer de uma cidade tão vidrinho.

Desta vez andamos com um guia American Express, cheio de imagens, dicas dentro de dicas, mapas ilustrados, não estamos nada habituadas a estas coisas. Páginas tantas Santa Cruz, mesmo a caminho, mesmo a calhar. é bonito, especialmente o parque de diversões junto à praia, um clássico americano. Mas Santa Cruz é uma desculpa para chegar mais tarde, para ficar mais um bocadinho, para que a viagem pela costa oeste não chegue tão cedo a San Francisco, para que não acabe já.