Macau I China
Patuá e pastéis de nata

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A morada está em português – “Praça Jorge álvares”, saímos pela placa que diz “Saída” e fazemos fila para os “Autocarros”. Descemos com a ponta do dedo o placard do 32 e passamos a vista pela Avenida Almeida Ribeiro, pela Mário Soares, a da Praia Grande e outras tantas ruas e avenidas com nomes conhecidos. Dizemos alto cada sinal português, comentamos todo o santo nome de rua e rimos com a voz do autocarro que diz num tom meio forçado – próxima-paragem.

Próxima paragem – Avenida D. João IV

é um galão, uma torrada e um pastel de nata, por favor. Sentadas na esplanada do Caravela, voltámos àquele velho hábito que é ouvir as conversas da mesa do lado, espreitar o jornal português e ter o gosto de passar um amigo na rua que se senta para o pequeno-almoço.

A cinco meses de viagem chegámos a Macau. Tão esperada Macau. é como quando se está quase a chegar a uma coisa que se quer muito – a fome triplica quando já se está sentada à mesa, o arranque dá-se quando se vê a meta ao fundo, a vontade de ir à casa de banho rebenta quando se chega ao elevador. Mas quando chegou à mesa a torrada em pão de forma cheia de manteiga, o galão bem clarinho e o pastel de nata com canela, nem falámos. Nunca tanta nostalgia nos atravessou o paladar, tanta saudade nos ficou colada aos dentes, nem nunca assim um galão nos despertou o coração.

A estranheza de chegar a um lugar onde nunca se esteve e tudo ser familiar. Faz-se como em casa, pede-se, pergunta-se, agradece-se como em casa, cheira a casa, até os amigos são de casa. Caminhar por Macau é encher o peito, é ficar-se inchada e com as bochechas rosadinhas de se ser português. é pisar calçada, preto-branco-preto-branco, ver as bocas pequeninas e perfeitinhas daqueles olhos em bico a abrir-se para trincar uma bifana em carcaça rija. Chegar ao Largo do Senado, subir as escadas para a Pin-to e babar as vitrines chinesas recheadas de pastéis de nata. Voltar a subir escadarias, um-dois-três-cinquenta-sessenta até às ruínas de São Paulo, ver ao fundo o Casino Lisboa e levantar a cabeça para a Fortaleza do Monte. Meio-dia-uma-duas-três da tarde vamos almoçar pastéis de bacalhau, arroz de tomate, ficar para a conversa, para o curto da Delta e sair para dar uma volta com o dono do restaurante. Apressa-se o passo ao passo rápido do nosso macaense, Casa de Portugal, Livraria portuguesa, Embaixada portuguesa, Santa Casa da Misericórdia, Albergue. Entramos na mercearia, nas galerias de arte, sentamo-nos de baixo da árvore e comemos todas as bolachas de amêndoa que nos sabem a toucinho do céu. Viramos o mapa do avesso, mudamos de posição, norte-sul-sul-norte, a Felicidade está guardada entre ruas paralelas e perpendiculares, na cartografia de travessas sem nome, sem escala certa, para lá metida com as outras todas. Rua da Felicidade, portas vermelhas, janelas vermelhas, o sangue a latejar. Temos os pés cansados, a pesar, sentadas no quiosque sem refresco, mas com a Sónia, muito patuá e pragmatismo.

é um galão, uma torrada e um pastel de nata, por favor. Apanha-se o 22, passa-se a ponte, chega-se à Taipa e às casinhas verde-água de frente para o mar. Voltamos ao Largo do Carmo sem colinas nem carmelitas, voltamos ao bacalhau. No Santos ficamos coradas com o copo de vinho tinto e com o Benfica pregado à parede. Lambemos os beiços de leite creme queimado, damos dois beijinhos e tiramos a fotografia. Deixamos a Taipa com as roletas dos casinos ao longe e com a saudade de não voltarmos. Voltamos ao 22.

Invade-nos o furor descontrolado das coisas que estão mal, que não são justas, uma ira cega com o tanto derrotismo, o tanto excesso de lamúria e de queixumes que sempre nos derrubam. Cresce-nos uma coisa revolvida e ruminada, como um orgulho impaciente, uma soberba necessária, o admirável amor próprio de se ser português. Há tanta energia desperdiçada pelas querelas da coitadice e tão pouco voluntarismo para o que ainda há por fazer. Mas desde quando fomos poucochinho de gente, desde quando nos esquecemos de quem somos e de quem fomos? Há tanta marca nossa a oriente e tão pouca gente nossa a sabê-lo.