Koh Rong Saloem I Cambodja
Um bando de sonhadores numa ilha deserta

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Calções curtos, blusa solta, joelho dobrado e perna estendida, ela não está sentada no bar apinhado de gente, está longe. Linda de morte. Ao lado um matulão de cabeça loira e rapada, olhos claros e manga cava, ele está cá, ao pé dela. Do outro lado da mesa, lenço enrolado à samaritano, camisa aberta à matador e olhar fulminante, está capaz de nos dilacerar a todos. Esticadas noutras almofadas, começámos a fazer o filme. Ela é a Isabelle, o loiro é o Matthew e o outro é o Theo, os três sonhadores do Bertolucci. Não. São os três bandidos do Godard, bem podiam começar a estalar os dedos e a sapatear que não estranhávamos, bem que podiam desatar a correr praia fora de mãos dadas, que nós já sabíamos o resto. E sabíamos tão bem que nos estavam a topar, sabiam tão bem que os estávamos a topar. Foram os primeiros a arranjar o pretexto, nós fizemos o resto da conversa. A Carla, o Don e o Pablo são os três argentinos que fizeram os nossos dias em Koh Rong Saloem. Três dias entre mesas, balcões, esperas, praia, partidas de bilhar, espanhol da Argentina, português de Portugal, português do Brasil e inglês para os mal entendidos.

Dormimos juntos logo na primeira noite, também foram para a ilha à campeões, com a fezada do colchão no dormitório ou da vaga nalgum bungalow, mas não. Dormimos todos nas almofadas do restaurante, as almofadas do pequeno almoço, do almoço e do jantar, as mesmas onde sempre se encontravam as duas portuguesas, o holandês e os três argentinos, e onde se iam juntando almofadas uruguaias, polacas e australianas. E enquanto nos íamos acomodando uns nos outros, descobríamos que o Pablo é tio do Don, que a Carla vive em Paris e que antes da ásia andavam a viajar pela Europa. Também se iam trocando umas notas de viagem, a índia pela Argentina, o Laos pelo Chile, o Vietnam pela Bolívia, e nos entretantos disputava-se o Ronaldo pelo Messi, esclareciam-se diferenças de sotaque e de sintaxe, e ia-se maldizendo a fome, a espera e comentando os cambodjanos cheios de estilo do bar – rabo de cavalo, brinco na orelha, cigarro na boca – para sempre voltarmos às almofadas indolentes e ociosas.

Koh Rong Saloem foi a ilha da preguiça, do descanso, do fazer nenhum. A ilha dos esquecimentos, das transigências, das coisas pacatas, do boiar no mar às duas da manhã, das conversas enroladas, da nossa música ouvir-se pela praia, dos demorados compassos de espera entre o pedido e o prato, entre a fome e o estar-se farto, entre a tequila e a pinacolada. E foi também a ilha do paraíso, a praia da areia fina e branca, do mar manso e sossegado, das águas transparentes e azuis, azul turquesa, azul cíano, azul meia-noite. E se a princípio, achámos piroso a lona-reclame que anunciava garrafalmente “Welcome to Paradise – The beach”, agora assinamos por baixo – The beach, a verdadeira.

A 31 de Dezembro a ilha não estava para grandes festas. A brisa acordou num vendaval, o mar brando estava danado e até o céu azul se viu cinzento. Tínhamos de sair dali. Mas como? Se o mau humor não passasse, também não passariam os barcos, não haveria comida suficiente, acabava-se a gasolina para o gerador, não haveria música, haveria mais atrasos, mais maus humores. A meio da tarde já se sabia que o barco grande não viria, mas talvez chegassem dois pequenos, carregados de mantimentos e de oxalás sair dali. às cinco da tarde do dia 31 de Dezembro embarcámos numa perigosa travessia, num mar com mais tormentas do que boas esperanças de chegar a Sihanoukville. Duas horas depois rebentavam fogos de artifício aos milhares e em simultâneo, três horas depois rebentavam fogos de artifício aos milhares e em simultâneo e nós jantávamos um hambúrguer em frente à praia, quatro horas depois rebentavam fogos de artifício aos milhares e em simultâneo e nós abraçávamo-nos, era meia-noite, começava o novo ano.

As primeiras horas de 2013 foram passadas a cirandar de champanhe em tequila, de J.Lo em Rihanna, de argentinos em irlandeses, de franceses em holandeses, sempre à escuta da melhor música, que o que nós queríamos era dançar, e se uma era até fim, a outra ficava pela metade, que a do lado era melhor. Acabámos a noite, ou talvez começámos o dia numa pastelaria francesa, nós, o Pablo e nove croissants.