De Nha Trang a Dalat
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alcohol O autocarro para Nha Trang é uma experiência. Nestes nunca andámos. São três filas de camas estreitas em colunas de dois andares, quem fica em baixo trama-se. Nós corremos para a última fila e lá conseguimos ficar com os últimos dois de cima. Foram doze horas de viagem, “O amante”, uma avaria no motor, o “Good morning vietnam”, gargalhadas de acordar o autocarro inteiro, solavancos, soluços, contramão, sem luz, sem faróis, ar condicionado no máximo, sem sacos cama, a enregelar.
Sabíamos que Nha Trang era o paraíso das luas-de-mel vietnamitas, segundo o Phi, mas também sabíamos que não era nada disso, segundo o Stefan, por isso fomos ver para crer. No fundo sempre soubemos que era o nosso amigo alemão que estava certo, mas gostámos tanto do Phi que lhe quisemos dar uma oportunidade. Nha Trang é uma praia de ondas revoltas, furibundas, incompreendidas, é um amontado de edifícios sem rei nem roque, de turistas vermelhuscos, barrigudos, feios, já os vietnamitas recém casados, nem demos por eles. Não perdemos muito tempo por lá, à primeira oportunidade esgueirámo-nos para Lak Lake.
Mais uma aventura na estrada num autocarro que parecia que ia perder o comboio. Cinco horas de triunfo, eram cães, eram galinhas, eram crianças, eram bicicletas, eram motas, tudo a abrir alas à febre dos apitos desaforados do nosso motorista.
Não sabíamos muito bem para onde é que íamos, um parágrafo de lugar no Lonely Planet, muitas poucas páginas na internet e meia dúzia de fotografias a ilustrar o sítio no álbum de uns easy riders. Pareceu-nos muito bem. Tínhamos uma morada, um número de telefone e sabíamos que o senhor Duc nos ia arranjar onde ficar. Pela primeira vez no Vietname, chegámos a um lugar onde não havia turistas e onde quase ninguém falava inglês, falava o senhor Duc e a mulher. Foi o que bastou para nos venderem dois colchões numa cabana, o jantar, o pequeno-almoço, uma volta de elefante e um passeio de kaiak. Duas horas depois estavam-nos a vender o caminho para Dalat à pendura de dois veteranos de guerra.
Lak Lake é um desvio que vale a pena. Um lago de perder de vista, rodeado de campos de arroz, casas de madeira e palhinha e elefantes a passear no meio da rua. Não foi por acaso que o imperador Bao Dai escolheu este lugar para construir um dos seus refúgios apalaçados. Já a boleia com os veteranos foi o verdadeiro tiro pela culatra. Estes dois ex-combatentes, que só mais tarde percebemos que eram do lado dos americanos, prometeram-nos histórias, explicações, paragens em campos de batalha, desvios pelo Ho Chi Min Trail, mas ficaram-se pelas water falls, pelas minority villages e a fábrica da seda. Do Ho Chi Min Trail só nos mostraram o trilho que lá ia dar, os campos de batalha vimo-los de longe e as histórias da guerra ficaram para eles.
Chegámos a Dalat com um frio de rachar e nódoas negras no traseiro. Dalat é no topo das montanhas altas do Vietname, tem um lago suíço, uma Tour Eiffel mais pequena, uma casa maluca, um jardim dos namorados e a estação de comboios mais antiga do Vietname (que já não está a funcionar), duas pastelarias francesas, um café das artes e um mercado. é pouco mais do que isto, mas sabe bem voltar à Europa por um dia ou dois.