É na Terra e não em Marte - I
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redirect Roubaram-nos um saco-cama. Caramba, não se roubam sacos-cama quando ainda por cima está um frio de rachar. Uyuni, de trombas e aí uns dois negativos. A 4x4 só arranca às dez e meia e ainda só são sete. Como já estava combinado, a Sandra vem-nos buscar ao terminal, e com o seu sorriso de dentes de ouro, recambia-nos logo para os pequenos almoços – que a esta hora no cubículo da agência não se querem grandes confusões de mochilas, trocas de roupa e escovas de dentes. Está um frio que não se aguenta e corremos logo para a casinha dos desayunos. Por lá é música de telenovela brasileira que se ouve, e qual não é o nosso espanto quando de repente passa “Falésia do amor, vertigem magia em mim”. Santa Maria a tocar em Uyuni, uma cidadezinha de fim-de-mundo perdida algures num deserto da Bolívia. Here we go!
é às dez da manhã que começa a confusão. Quem vai com quem, quem segue para San Pedro, quem precisa de saco-cama, onde se põem as mochilas? Estão três jipes de frente para a Sandra, do outro lado da rua há mais uns tantos, e se não houver espaço nos jipes da casa, arranja-se sempre qualquer coisa nos de outra agência, que diferença faz, vai fazer tudo o mesmo. às onze saímos com as pernas encolhidinhas no Toyota Land Cruiser em direcção ao Cemitério de Comboios. Na rifa saiu-nos a Tatiana, uma colombiana, o Stephan, alemão, a Vicki, uma inglesa e o Diego brasileiro.
Logo na primeira paragem é preciso voltar para trás. Esqueceram-se dos nossos sacos-cama, mas nós sabemos muito bem quem é que não vai passar frio nestas noites de -18ºC, ai volta-se para trás, volta-se. é claro que os sacos-cama já lá não estão, estão noutro jipe, pois claro. Apanhamo-los na próxima paragem – Colchani – um escombro de lugar onde se trata o sal do Salar. Entretanto o nosso Toyota Land Cruiser não arranca. Abre-se o capô, dão-se umas marteladas na bomba da gasolina, e andor. Trocam-se as primeiras cumplicidades no grupo.
Mas não há nada como o Salar para desbloquear acanhamentos. Aqui, se não há grupo, não há fotografia, e no fundo, também estávamos lá para isso. Já todos tínhamos visto os jogos de perspectiva, o pezinho a esmagar a amiga, o candelabro humano, o beijinho, o pontapé, o dinossauro. Mas quando chegou o momento de executar as palhaçadas, percebemos o quão pouco jeitosos éramos e quanta falta de noção de perspectiva e engenho tínhamos. Era ver os outros grupos todos postos no sítio, todos com objectos piriris a sacar grandes acrobacias fotográficas. Nós não dávamos uma para a caixa, e foi em desespero de causa que recorremos ao nosso guia/motorista/cozinheiro/mecânico/fotógrafo para nos dizer o que fazer. Das trinta e duas tentativas, todas multiplicadas pelas cinco máquinas fotográficas, aproveitam-se uma meia dúzia, mais ou menos no sítio. Mas que importa, estamos no maior salar do mundo, e aqui as imagens têm outra dimensão. Perdem-se as referências das distâncias, fecham-se mais os olhos, que a claridade magoa e o espanto é muito.
Entretanto o Gregório fotógrafo já encarnou cozinheiro, a mala do jipe já serve de mesa, e o Salar é o saleiro mais a jeito para a comida insonsa que aí vem. Um saquinho de plástico com umas batatinhas, um tupperware de costeletas tramadas de trincar, e a tampa do tupperware para servir o arroz. Tudo alinhadinho na mala-balcão. Nós fazemos a filinha da cantina para depois nos sentarmos no chão de prato nas pernas a espalhar arroz, batatas e cenouras pelo branco do Salar.
Arranque a custo, hesitação, já se abana a cabeça nos bancos de trás, mas não há nada como umas boas pancadas na bomba da gasolina, seguimos para a Ilha dos Catos. Pica-se o ponto, dá-se a volta à ilha, que subir sai caro, e volta-se aos bancos de trás. O Salar é muito grande e ainda temos de fazer uns bons quilómetros até ao lugar onde vamos passar a noite.
Ao longe começa-se a avistar qualquer coisa, um amontoado de paredes de tijolo, meio destroço, meio construção, o nosso guia aponta e diz que é para ali que vamos dormir. Desta vez os olhares são aflitos. Não é que esperássemos grandes luxos, mas o que víamos ao longe era mais parecido com uma ruína do que com uma casa, que nada tinha que ver com o hotel de sal que vimos na fotografia. O caminho até ao cimo do monte foi de reclamações e queixinhas, todas em inglês, para que o Gregório não desse por nada, afinal, que culpa tinha o homem? Foi contrariados que entrámos no nosso casebre, mas mal abrimos a porta, damos com uma sala grande em chão de grãos de sal, grupos à volta de mesas a tomar chá e a comer biscoitos, e um ambiente aconchegante. Vamos ter electricidade até às onze, há água quente até às oito e meia, e em mais meia hora serve-se o nosso chá, que luxo.